5 de março de 2012

Piolhos: insetos que parasitam os seres humanos


Os piolhos são insetos parasitas que se alimentam de sangue, ou seja, são hematófagos.


Piolho agarrado a um fio de cabelo.


Fazem parte da ordem Anoplura e há cerca de 530 espécies deste inseto distribuídas entre 15 famílias, das quais apenas duas apresentam espécies que parasitam os seres humanos:

a) Família Pediculidae, com as espécies Pediculus capitis, o piolho da cabeça (anteriormente citado por Pediculus humanus humanus) e P. humanus (também citado como Pediculus humanus corporis), que é o piolho do corpo, conhecido como “muquirana”.

b) Família Pthiridae, com a espécie Pthirus pubis, conhecido como “chato”



O piolho da cabeça está distribuído praticamente em todo o mundo. Atacando grande número de crianças em idade escolar e às vezes adultos de todas as classes sociais. Isto está associada a fatores como: 

- resistência do P.capitis aos inseticidas usuais;

- aumento da população humana e modificação dos hábitos sociais e afetivos, o que favorece o contato entre as pessoas, como em salas de aula, transporte coletivo, beijos no rosto para cumprimentos;

- falta de programas sociais governamentais para evitar as infestações; 

- falta de inspeção em grupos específicos que possam apresentar o inseto como por exemplo, crianças em idade pré-escolar. 

Além da coceira intensa, chamada de prurido, os piolhos podem funcionar como veículos para microrganismos causadores de sérias infecções por Rickettsia prowazeki, causadora do tifo exantemático, por Bortonella quintana, agente da febre das trincheiras, e por Borrelia recurrentis, causadora da febre recorrente.

- Tifo exantemático: transmitido pelas fezes e esmagamento dos piolhos.

- Febre das trincheiras: infecção emergente (apresentam novas manifestações clínicas) que se pensava ter desaparecido após as Guerras Mundiais. Transmitida pela picada e fezes de piolhos do corpo.

- Febre recorrente: transmitida pelo esmagamento dos insetos entre os dedos.



As doenças causadas pelos piolhos


É chamada de pediculose a infestação por piolhos, sendo assim, há a pediculose do couro cabeludo e pediculose do corpo.

A infestação causada pelos “chatos” (P. pubis) recebe vários sinônimos como, pitiríase, pitirose, fitiríase e fitirose. No entanto, popularmente é conhecida como pediculose pubiana ou pediculose do púbis.

Os sintomas destas doenças são: 

- prurido (coceira); 

- irritação da pele ou do couro cabeludo;

- surgimento de infecções bacterianas causadas por estafilococos, como impetigo que é uma infecção bacteriana superficial indicada por lesões que se rompem e liberam um líquido amarronzado e após seca e forma uma crosta;


- inflamação dos gânglios linfáticos próximos à área da infecção; 

- alopécia (perda total ou parcial dos cabelos) 


Obs.: crianças desnutridas podem apresentar quadros de anemia ocasionados pela hematofagia (ato de se alimentar de sangue) do inseto.


A pediculose afeta as crianças com o desconforto do prurido que não para, até mesmo durante à noite, o que pode atrapalhar seu sono e consequentemente pode afetar seu desempenho escolar.

A picada dos piolhos provoca uma dermatite (inflamação da pele), causada em resposta a injeção de saliva do inseto no organismo quando este se alimenta do sangue do hospedeiro (hematofagia). 


Dermatite no couro cabeludo

O paciente tem então uma coceira intensa e ao se coçar acaba esfolando sua pele e provocando microlesões e pequenas aberturas na pele antes íntegra, favorecendo a entrada de microrganismos patogênicos através desta exposição. 



Os insetos – morfologia


São pequenos e não possuem asas. O aparelho bucal é do tipo picador-sugador. As pernas são fortes e possuem fortes garras que formam uma pinça, com a qual o inseto fica firmemente agarrado aos pelos.


Fases de vida dos piolhos


Seus ovos, conhecidos como lêndeas, são colocados nos pelos. As lêndeas são operculadas (como um espaço oco com tampa) de coloração branco-amarelada e medem aproximadamente 0,8 mm x 0,3 mm.


Lêndea no fio de cabelo





Os piolhos da cabeça medem por volta de 3 mm e botam seus ovos na base do cabelo,  enquanto que a espécie que habita no corpo mede aproximadamente 3,5 mm de comprimento e prefere botar ovos nas dobras das roupas. 

À medida que os cabelos crescem as lêndeas que estiverem ali aderidas vão também se afastando do couro cabeludo (lugar ótimo para que sejam chocados os ovos), por isso as que estiverem mais próximas das extremidades (0,7 cm) provavelmente estejam mortas ou já eclodidas (quando a ninfa sai do ovo), uma vez que, as lêndeas necessitam do calor da cabeça para isso acontecer. 



Ciclo de vida dos piolhos




I. A fêmea do piolho bota seus ovos (7 a 10 por dia), estes ficam aderidos na extremidade do pelo.

II. Após o período de 8 a 9 dias ocorrerá a eclosão dos ovos, gerando os insetos jovens chamados de ninfas.

III. As ninfas passarão por três estágios (mudas), e serão classificadas em N1, N2 e N3. Após a fase N3 as ninfas tornam-se adultas, aptas para o acasalamento e procriação.  Este processo leva cerca de 15 dias, da N1 até adulto.

IV. Machos e fêmeas adultos se acasalam e darão continuidade ao ciclo quando a fêmea botar novas lêndeas.



As fêmeas do piolho da cabeça podem viver cerca de 40 dias, com isso chegam a botar aproximadamente 200 ovos durante sua vida. Já as fêmeas do piolho do corpo vivem por volta de 90 dias e podem botar cerca de 110 ovos durante este período. 



Prevalência das espécies de piolhos


P. humanus é mais frequente em população adulta, principalmente em grupos específicos como profissionais do sexo, moradores de rua e presidiários

P. capitis é mais prevalente em crianças e adolescentes, na faixa etária entre 6 a 13 anos, no entanto, há casos de infestação em crianças de 1 a 5 anos.

A infestação é mais comum no período entre os meses de abril a setembro, com maiores picos em agosto e abril, respectivamente, logo após os períodos de férias de cada semestre. 

P. pubis vivem nos pelos da região pubiana (próxima aos genitais). Em intensas infestações podem ser encontrados nos pelos axilares (debaixo dos braços), sobrancelhas e barba, até mesmo em pelos da cabeça.





Formas de transmissão


Principalmente pelo contato, facilitado por coabitação em locais apertados, em transportes coletivos, abraços, brincadeiras infantis. 

Os “chatos” são transmitidos pelo contato sexual.

Transmissão de piolho ou “chato” por meio de ovos é pouco provável, bem como a transmissão indireta de insetos adultos e ninfas através de pentes, escovas, gorros, bonés, toucas, fronhas etc., uma vez que, fora da cabeça eles não sobrevivam por muito tempo. No entanto, piolhos do corpo podem ser transmitidos através destes materiais. 



Meios de tratamento e controle 


Pediculose do corpo:

- Lavar as roupas do individuo com a infestação, em água contendo formol ou Lysoform (este último é vendido em supermercados). Deixando por cerca de 2 horas as roupas mergulhadas nesta solução. Este processo deve ser feito a cada 4 dias. 



- Tratar as lesões de pele (se houver) com pomadas específicas receitadas por um médico.

- Banhar a pessoa com solução de permanganato de potássio à concentração de 1:1000 (1 parte de permanganato de potássio e 999 partes de água) 

_______________________________________________________________
Ex: Para se preparar 1 litro de solução:

- colocar em um recipiente 1 litro de água e retirar 1 mL deste recipiente
- depois de retirado 1 mL de água, acrescentar 1 mL de permanganato de potássio e agitar
_______________________________________________________________


Pediculose da cabeça:

- Medicamentos receitados por um médico.

- Controle manual por:

1) Catação manual dos insetos e eliminação destes, mergulhando-os em álcool ou queimando-os com fogo ou ferro de passar quente. Não é recomendável matá-los entre os dedos para evitar infecções. 

2) Penteação ou escovação com o objetivo de retirar insetos adultos ou ninfas. Método feito com o uso de “pente fino”. Quando for utilizado para retirar lêndeas deve ser passado no sentido da extremidade para a base do cabelo. Utilizar com os cabelos umidificados com óleos ou cremes, uma vez que atrapalham a aderência do inseto ao fio de cabelo.


Pente fino utilizado para remoção dos insetos.


3) Ar quente direcionado por um secador de cabelo aplicado por alguns minutos. Seu efeito é melhor sobre lêndeas do que contra insetos adultos e ninfas.

4) Raspagem da cabeça. Embora este método seja muito eficiente pode causar constrangimentos, principalmente às crianças em fase escolar. 

5) Corte curto dos cabelos, que é menos constrangedor que a raspagem por completa. Porém deve ser cortado com no mínimo 8 mm a partir do couro cabelo para se ter efetividade. 

6) Utilização de produtos como óleos, cremes ou vaselina que dificultam a sobrevivência do inseto porque os fios do cabelo se tornam escorregadios, impedindo sua aderência. 

7) Aplicação de solução salina (água com sal) nos cabelos de pessoas infestadas ajuda a eliminar as lêndeas. 



Bibliografia:
NEVES, David Pereira; MELO, Alan Lane; LINARDI, Pedro Marcos; VITOR, Ricardo W. Almeida. Parasitologia Humana. 11.ed. São Paulo: Atheneu, 2005. p. 407

Nenhum comentário:

Postar um comentário